Brasil Aikikai – A revolução do Aikido no Brasil
A história do Aikído no Brasil pode ser dividida em
duas etapas distintas: antes e depois da formação do grupo Brasil Aikikai sob a
supervisão internacional do mestre Yoshimityu Yamada, 8º Dan do New York
Aikikai. O Aikido no Brasil foi introduzido
por Reichin Kawai no final da década de 60, em São Paulo e dois anos mais tarde
no Rio, pelo mestre Teruo Nakatani.
Apesar de seu enorme amor pelo
Aikido, o prof. Kawai tinha muita
dificuldade em se adaptar aos costumes ocidentais, democráticos e
independentes. Com uma personalidade e atitude às vezes até confundidas como
ditatorial, centralizou a arte em suas mãos, não permitindo que ela se
expandisse, salvo se tivesse total controle das academias. Assim, registrou no Instituto de Marcas e
Patentes a marca "Aikido", e com isto impedia a criação de qualquer
outra academia que quisesse se desenvolver fora de sua organização, a FEPAI
(Federação Paulista de Aikido). Era o
professor Kawai aquele que tinha o poder de conceder as faixas pretas, e se
alguém discordasse de seus métodos, e ou, ideias, era imediatamente expulso,
tal era a forma "dura" pela qual conduzia o destino do Aikido, no
Brasil. Haviam muitas reclamações ao Dojo Central em Tóquio, porém a estrutura
do central nessa cidade era de total confiança e apoio a seus representantes
como é peculiar na cultura japonesa. Não
havia então lugar no Aikido no Brasil para quem não se compatibilizasse com
mestre Kawai, principalmente em São Paulo.
Vários outros mestres vieram do Japão, porém aqui não se estabeleceram,
provavelmente pela estrutura organizacional e política então existentes. É
claro que dentro de uma estrutura tão fechada a arte não podia progredir, e em
1984 não havia mais do que 3 ou 4 Dojos em São Paulo e alguns no Rio e
Brasília, criados por alunos de Teruo Nakatani, que apesar de ser um excelente professor, praticante, e
bastante querido e respeitado por seus alunos, decidiu afastar-se do Aikido e
dedicar-se a seus negócios particulares e empresariais, deixando seu grupo ao
encargo de prepostos. Foi uma lástima, pois se Teruo Nakatani tivesse
continuado a ensinar Aikido, certamente a história do Aikido brasileiro teria
sido muito diferente. Ele era um líder e
excelente aikidoista, inclusive amigo de Yamada Sensei, que é o mais graduado
mestre das Américas, e Shihan do Brasil Aikikai.
Foi então que chegou ao Brasil o
mestre Massanao Ueno que era, além de um grande aikidoista, também um pastor
shintoista. Por discordar do mestre
Kawai por razões políticas, acabou tendo um Dojo próprio onde abrigou Wagner
Büll, Carlos Dutra, Breno de Oliveira, Daniei Bornsteins entre outros, que
decidiram deixar o mestre Kawai por não concordarem com seus métodos. Quem
treinou no Dojo de Ueno Sensei teve uma oportunidade de ouro de conhecer o
Aikido a fundo. Como Morihei Ueshiba, o fundador do Aikido, Ueno Sensei era
shintoísta praticante, e aquelas pessoas interessadas e afortunadas, que
praticaram Aikido com ele naquela época, perceberam claramente a ligação entre
as técnicas, o sentimento e o espírito esotérico do Aikido.
Quem conheceu o Aikido ensinado pelo
mestre Ueno, jamais poderia voltar a praticá-lo como o fazia anteriormente. Na
verdade, foi o prof. Ueno que inspirou o prof. Wagner Büll a escrever o livro
"Aikido, o caminho da sabedoria" e iniciar seu trabalho divulgativo
da arte no Brasil. Assim, criamos o Instituto Takemussu com a supervisão geral
do mestre Yoshimitsu Yamada, presidente da Federação Norte-Americana de Aikido
que nos daria cobertura internacional junto à sede central no Japão para que
pudéssemos dar faixas pretas a nossos alunos, bem como nos atualizar na
evolução das técnicas, uma vez que Yamada Sensei viaja o mundo todo e os EUA
são hoje um grande centro de Aikido mundial. Infelizmente o prof. Ueno voltou
para o Japão. Nosso objetivo ao fundar o Instituto Takemussu era criar um
centro difusor do Aikido, onde a arte pudesse ser praticada o mais próximo
possível como o fundador propôs, ou seja, um treinamento marcial para
iluminação espiritual.
O sucesso foi muito grande, em pouco
tempo o Instituto Takemussu cresceu e passou a ser uma das organizações mais
importantes de Aikido do País. Com os primeiros seminários organizados por
Yamada Sensei no Brasil, sua técnica e personalidade impressionaram outros
mestres brasileiros que também estavam descontentes com a FEPAI, como Carlos
Eduardo Dutra, Daniel Bornstein, Fernando Takiyama, Severino Salles, Ricardo
Leite, e estes, resolveram juntar suas organizações sob o "guarda-chuva"
de Yamada Sensei e criando-se o Brasil Aikikai que hoje é a maior organização
de arte no País. Em São Paulo criou-se a
FPA- Fundação Paulista de Aikido Tradicional. O Brasil Aikikai é presidido pelo
prof. Severino Saltes e tem em sua diretoria técnica o prof. Ricardo Leite,
Wagner Büll na Secretaria, com Fernando Takiyama como tesoureiro e Daniel
Bornsteins e Carlos Dutra no Conselho e vice-presidência, respectivamente. Com
uma mentalidade aberta, moderna, objetivando a criação de novos núcleos de
treinamento no País, novos Dojos são abertos, por antigos praticantes ou
instrutores formados dentro do novo espírito aberto e democrático, como o Aikido o é.
No Brasil Aikikai não existe
“cacique". As decisões são tomadas em assembleia democrática, onde tem
mais peso os professores que possuem mais alunos. Ninguém é obrigado a filiar-se a alguém de
quem não gosta para que possa "oficializar-se", e poder dar faixas
pretas com reconhecimento internacional. Para que algum mestre, possa ingressar
no Brasil Aikikai basta o Dojo ter como responsável um Shihan do Aikikai sem
ser obrigado a aceitar alguém na hierarquia de quem não goste, como era a
estrutura anterior. E o resultado é que
o Aikido está crescendo como nunca. Dentro da organização do Prof. Kawai, a
FEPAI, haviam muitas pessoas descontentes, porém tinham receio de desobedecer o
mestre Kawai e serem expulsos e perseguidos. Havia também o sentimento 'japonês’
de jamais abandonar o mestre mesmo que com ele não se estivesse de acordo. O
professor Wagner Büll, fundador do Instituto Takemussu chegou a ser processado
na justiça comum em 1987, pela organização vigente de então, que queria impedir
o desenvolvimento do Instituto Takemussu pela força através do registro de
marcas, e da força política que a, FEPAI poderia dispor na então lei em
vigor.
O professor Wagner Büll venceu na
Justiça e conseguiu que o CND reconhecesse o Instituto Takemussu oficialmente
como entidade autorizada a difundir o Aikido Tradicional. A FEPAI havia inventado competições na arte
para poder se registrar como esportes no CND e até agora ainda continua
registrada como Aikido com competições, indevidamente segundo os padrões
internacionais, pois a sede central no Japão proíbe formal e estatutariamente
as competições na arte. A partir desta nossa vitória junto ao CND, e na
Justiça, o Aikido estava livre para se desenvolver no País e qualquer grupo
habilitado poderia então abrir um Dojo sem ter que passar pela ditadura da
FEPAI. Abria-se a possibilidade no Brasil para que o Aikido crescesse no País
como nos EUA e Europa.
Se o Prof. Kawai sempre teve
dificuldades em trabalhar em equipe, individualmente porém, fez muito pela
arte, formando vários faixa-pretas que mais tarde passaram a ser figuras
importantes no Aikido brasileiro como, Severino Salles, Ricardo Leite, Kaizen
Ono, Makoto Nishida, Paulo Nakamura, Breno de Oliveira entre muitos
outros. Porém, para que isto
acontecesse, infelizmente, todo seles precisaram desligar-se do Prof. Kawai e
fundaram organizações próprias com ou sem o seu consentimento. No Rio de
Janeiro, o Prof. Bento e Prof. Adélio seguiram o mestre Shikanai, que por sua
vez indiretamente respondia ao mestre Kawai, infelizmente, dependência esta que
de certa forma, também atrapalhava o desenvolvimento da arte no Rio. Foi então
que aconteceu um movimento na FEPAI em 1990, liderado por Makoto Nishida,
visando destituir o Mestre Kawai da mesma e que teve sucesso, e que o obrigou a
renunciar à presidência da FEPAI e se desligar da mesma. Mestre Kawai experimentou na carne o amargo
sabor da revolta de seus próprios alunos.
Makoto Nishida e José Lemos eram o braço direito do mestre Kawai e eram
as pessoas em que ele mais confiava e foram elas que lideraram a revolta
motivando sua renúncia da FEPAI depois de quase 15 anos de trabalho. Mestre
Kawai ficou muito magoado, pois não recebeu de alguns de seus alunos o
“gueri" (agradecimento) pelo contrário, foi desprezado.
Os demais alunos de Kawai Sensei que
preferiram seguir a tradição japonesa de apoio incondicional ao mestre,
seguiram Kawai e fundaram a União Aikikai do Brasil.
Nós do Brasil Aikikai e da Federação
Paulista de Aikido Tradicional - FPA, estamos tentando colocar uma pedra em
cima do passado e organizar uma união entre todas as organizações dirigentes do
Aikido no Brasil, porém a FEPAI, dirigida atualmente por Makoto Nishida quer
seguir um caminho isolado chegando ao cúmulo de proibir a presença de
praticantes ligados a outros grupos em seus seminários internacionais, numa
atitude incompatível com os mais básicos princípios do Aikido.
Felizmente o mestre Kawai, por outro
lado, aprendeu a lição que a vida lhe deu, e hoje administra sua organização, a
União Aikikai, com um espírito aberto e democrático, dando um exemplo prático
de como se deve comportar um verdadeiro mestre de Aikido.
Sua academia e seminários estão sempre abertos a
todos, inclusive se reconciliou com prof. Wagner e com o Instituto Takemussu e
sua organização é amiga do Brasil Aikikai, procurando sempre que possível a
aproximação. É este o espírito do Aikido que estamos lutando para atingir no
Brasil. Precisamos vencer a teimosia do
mestre Makoto Nishida e do Lemos, que insistem na velha teoria, frustrada e
antiquada, de querer controlar a arte em suas mãos, buscando o isolamento. Queremos aqui, de público, fazer um convite
oficial ao mestre Nishida para juntarmos as mãos em amizade e trabalharmos
juntos doravante, para o futuro ainda maior do Aikido no País. Makoto Nishida é hoje a barreira que impede
que seu Aikido e a FEPAI vivam na prática, o que propõe em teoria, e de um
exemplo de harmonia a todos, fazendo o "Do" que procuram ensinar, mas
que não o vivificam. Conclamamos as pessoas que estão ligadas a Makoto Nishida
que nos ajudem a abrir-lhe os olhos para o erro que está cometendo e lhe
mostrem, o correto caminho, ou o Aikido marchará dividido no Brasil e isto não
é bom para ninguém.
Infelizmente as velhas mensalidades retrógradas e
exclusivistas do passado de alguns mestres estão impedindo que o Aikido integre
todas suas organizações, mas o Brasil Aikikai está fazendo muita força para que
estes mestres compreendam que o crescimento do Aikido no Brasil é mais
importante que seus desejos egoístas de controle de organizações e pessoas.
Este artigo tem no fundo este objetivo. Nos dias 4 e 5 de dezembro de 1994, o
Brasil Aikikai organizou um seminário Internacional com Yamada Sensei, 8º Dan,
e foram convidados todos os membros da FEPAI, bem como os professores e alunos
e todos os praticantes da arte do País sem qualquer preconceito. O Brasil
Aikikai quer dividir esta oportunidade de ouro para que os aikidoistas
brasileiros possam treinar com este grande mestre. Posteriormente, Yamada Sensei foi a
Argentina, onde existe grande grupo a ele filiado, bem como no Uruguai, Chile,
Peru, Venezuela, Equador, Colômbia, México, Porto Rico, e Curaçao, cujas organizações
estão internacionalmente ligadas ao Brasil Aikikai.